9 sintomas do transtorno depressivo maior (TDM)
Revisado pelo(a) João Carlos Camolez, CRP/PR 21360 , Psicologia
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), existem vários tipos de transtornos depressivos, como transtorno depressivo maior; transtorno disruptivo de desregulação do humor; transtorno depressivo persistente; transtorno disfórico pré-menstrual; transtorno depressivo induzido por substância/medicamento; transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado.
Nesse post, especificamente, será abordado o transtorno depressivo maior.
O transtorno depressivo maior, conhecido como depressão clássica ou unipolar, é uma condição de saúde mental que se origina, em grande parte, da redução na produção de hormônios essenciais, apresentando características (sintomas) como: presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo (perda de interesse nas atividades rotineiras, insônia ou hipersonia persistente, tristeza profunda sem razão aparente, dentre outros).
Neste artigo, conheça os 9 sintomas do transtorno depressivo maior (TDM), suas características distintas e as opções de tratamento disponíveis.
Sintomas do transtorno depressivo maior (TDM)
Quanto surgem, os sintomas do transtorno depressivo maior devem persistir por um período mínimo de duas semanas consecutivas (embora a maioria dos episódios dure um tempo consideravelmente maior).
Esse transtorno é particularmente debilitante, causando alterações nítidas no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas, podendo incapacitar uma pessoa de realizar até mesmo as atividades mais simples, como sair da cama ou cuidar da higiene pessoal. Veja mais exemplos a seguir.
1. Sentimentos de vazio e falta de interesse
Uma das manifestações mais marcantes do TDM é a presença persistente de sentimentos de vazio e falta de interesse ou prazer nas atividades e pessoas ao redor.
A capacidade de experimentar prazer é reduzida, levando a uma perda de interesse nas atividades que normalmente trariam satisfação.
É importante ficar atento para o fato de que, tanto os sentimentos de vazio (humor deprimido) quanto a perda de interesse ou prazer, precisam estar presentes na maior parte do dia, quase todos os dias por pelo menos duas semanas seguidas.
Nesse caso, o tratamento envolve uma abordagem combinada de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapia, implicando no uso de medicação antidepressiva.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é frequentemente recomendada para ajudar os pacientes a reestruturar pensamentos negativos e desenvolver estratégias para lidar com a falta de interesse e motivação.
2. Tristeza intensa e insônia
A tristeza profunda é um dos pilares da depressão maior. Os indivíduos podem sentir uma sensação constante de tristeza, mesmo sem um motivo aparente.
Pode ocorrer da pessoa negar a existência da tristeza, inicialmente, mas que pode ser revelada por meio de entrevista ou inferida pela expressão facial e por atitudes. Por isso, a consulta com o profissional se faz importante.
Esse sintoma pode se manifestar em problemas de sono, como a insônia (que perturba o padrão normal de descanso), assim como a hipersonia (em que a pessoa deseja somente dormir, ficando assim na cama na maior parte do dia, quase todos os dias).
A TCC pode auxiliar na identificação de padrões de pensamento negativo que contribuem para a tristeza e as perturbações do sono (em conjunto com uma avaliação psiquiátrica).
Em alguns casos, os psiquiatras podem prescrever medicação para ajudar a regular o sono e a melhorar o humor.
3. Humor deprimido
No transtorno depressivo maior, o paciente vivencia um estado emocional caracterizado por um sentimento persistente de tristeza, desesperança ou vazio.
É importante ficar atento ao fato de que em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ou rabugento, em vez de triste ou abatido.
Esse estado emocional debilitante ocorre quase diariamente e durante a maior parte do dia, afetando a qualidade de vida da pessoa e implicando em prejuízos significativos no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida.
O indivíduo também pode sentir um profundo desânimo, uma sensação de desespero em relação ao futuro e uma falta geral de interesse ou prazer nas atividades cotidianas.
Às vezes, o humor é percebido e descrito pela pessoa como deprimido, triste, desesperançado, desencorajado ou “na fossa”.
Esse humor deprimido pode ser notado tanto pelo próprio paciente quanto por pessoas próximas, o que pode ajudar no diagnóstico e na busca de ajuda profissional.
Quanto antes for diagnosticada a depressão maior, mais positivo será o processo de tratamento, evitando prejuízos pessoais, familiares e profissionais mais profundos.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar o paciente a identificar e desafiar padrões de pensamento negativos e distorcidos que podem desencadear o humor deprimido.
O uso de antidepressivos, como inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) ou inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), também podem ser prescritos por um médico para ajudar a aliviar os sintomas.
4. Alterações no apetite e peso
Flutuações no peso corporal e no apetite são comuns em pessoas que sofrem com o transtorno depressivo maior.
Alguns indivíduos deprimidos precisam se esforçar para se alimentar, enquanto outros podem comer mais ou demonstrar vontade intensa de consumir alimentos específicos, como doces ou outros carboidratos.
Essas mudanças podem se manifestar de diferentes formas. Alguns pacientes podem experimentar uma redução acentuada no apetite, levando a uma perda de peso significativa em um curto período de tempo.
Isso ocorre porque a depressão pode afetar o sistema regulador do apetite no cérebro, levando à diminuição do interesse e prazer (apetite) pelos alimentos.
Por outro lado, há casos em que o paciente apresenta um aumento significativo no apetite, levando ao ganho substancial de peso.
Essas variações não refletem apenas o impacto emocional da depressão, mas também podem ser um fator adicional de angústia para o paciente.
Neste caso, além do acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, é recomendado buscar aconselhamento nutricional, como de um nutricionista, para ajudar a estabilizar os hábitos alimentares e a promover escolhas saudáveis.
A prática de exercícios físicos também pode contribuir para regular o apetite e melhorar o bem-estar geral.
5. Agitação ou retardo psicomotor
O paciente pode manifestar sintomas psicomotores, tornando-se inquieto e incapaz de ficar parado. Ou seja, com incapacidade de ficar sentado quieto, pode ficar andando sem parar, agitar as mãos, além de puxar ou esfregar a pele, roupas ou outros objetos.
Por outro lado, alguns pacientes podem apresentar um atraso acentuado nos movimentos e na cognição, causando uma sensação de lentidão, seja no discurso, pensamento ou ter movimentos corporais lentificados; maiores pausas antes de responder; fala diminuída em termos de volume, inflexão, quantidade ou variedade de conteúdos, ou mutismo.
É importante ficar atento para o fato de que, tanto na agitação quanto na lentificação, devem estar presentes sinais suficientemente graves a ponto de serem observáveis por outros, não representando somente sentimentos da própria pessoa.
Estratégias de relaxamento, meditação e técnicas de controle do estresse podem ser empregadas para ajudar o paciente a gerenciar a inquietação.
Para aqueles que experimentam retardo psicomotor, terapias cognitivo-comportamentais e abordagens de reabilitação podem ser utilizadas para estimular a cognição e os movimentos.
6. Fadiga e perda de energia
A fadiga constante é uma característica central do TDM. Mesmo atividades simples e leves podem se tornar exaustivas, exigindo um esforço substancial do paciente, que pode sentir uma falta geral de energia para lidar com o dia a dia.
Também pode haver diminuição na eficiência para realizar tarefas, implicando no dobro do tempo habitual para a pessoa lavar-se e vestir-se, por exemplo.
Para tratar a fadiga e a perda de energia no TDM, há o envolvimento de uma abordagem multifacetada, atentando-se a uma avaliação adequada para identificar, de forma diferencial, uma fadiga física (real), de uma fadiga profunda, da mente ou “da alma” (completa ausência de expectativa em relação à vida).
As psicoterapias, como a terapia cognitivo-comportamental, podem ajudar o paciente a identificar comportamentos e pensamentos que podem intensificar a fadiga.
Além disso, a prescrição de medicamentos antidepressivos, sob a supervisão de um médico, pode ajudar a restaurar os níveis de energia e a melhorar o humor.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva
Os pacientes frequentemente manifestam sentimentos intensos de inutilidade, autodesvalorização, culpa excessiva e inadequação, podendo implicar em avaliações negativas e irrealistas do próprio valor, preocupações e ruminações baseadas em culpas e pequenos fracassos vividos.
Eles podem se culpar por situações que não estão sob seu controle ou por eventos que ocorreram no passado, ou seja, têm um senso exagerado de responsabilidade pelas adversidades.
É importante ficar atento ao fato de que o sentimento de desvalia ou culpa exagerados podem assumir proporções delirantes.
Para lidar com os sentimentos de inutilidade e culpa excessiva, terapias psicodinâmicas e terapias interpessoais podem ser utilizadas para explorar as origens desses sentimentos e pensamentos para desenvolver estratégias de enfrentamento saudável da depressão.
Os psicólogos também podem trabalhar com os pacientes para desafiar pensamentos negativos distorcidos e promover a autoconsciência com exercícios de autocompaixão e aceitação.
8. Dificuldade de concentração e tomada de decisões
A dificuldade de concentração e tomada de decisões é uma característica intrínseca do TDM.
O paciente pode sentir sua mente confusa, incapaz de se concentrar em tarefas simples ou complexas, podendo mostrar-se facilmente distraído ou queixar-se de dificuldades de memória.
Isso pode afetar sua vida profissional, acadêmica e pessoal, levando a sentimentos de tristeza e inadequação.
Caso a dificuldade de memória seja implicada pela depressão maior, quando o episódio é tratado com sucesso, os problemas de memória frequentemente apresentam recuperação completa.
O tratamento para esse sintoma pode incluir a TCC, que auxilia o paciente a desenvolver estratégias para melhorar a concentração, gerenciar distrações e tomar decisões de maneira mais eficaz.
Além disso, os profissionais especializados na área da saúde podem ajudar o paciente a estabelecer metas realistas e quebrar tarefas em etapas menores, facilitando o processo de tomada de decisões.
9. Pensamentos recorrentes de morte e suicídio
Os pensamentos recorrentes de morte e suicídio são um aspecto grave do TDM e exigem atenção imediata.
Muitos pacientes vivenciam ideias intrusivas sobre a própria morte ou sobre a possibilidade de trazer riscos à própria vida.
Esses pensamentos variam desde um desejo passivo de não acordar pela manhã, ou uma crença de que os outros estariam melhor se o indivíduo não existisse, até pensamentos transitórios, porém recorrentes, sobre cometer suicídio ou planos específicos para encerrar a vida.
Em situações mais graves, esses pensamentos podem evoluir para planos detalhados ou tentativas de suicídio.
As motivações para o suicídio (para os acometidos pela depressão maior) são variadas, como o desejo de desistir diante de obstáculos percebidos como insuperáveis; intenso desejo de pôr fim a um estado emocional extremamente doloroso; incapacidade de visualizar algum prazer na vida e, até mesmo, o desejo de não ser uma carga para os outros.
O tratamento para esse sintoma deve ser intensivo e envolve uma combinação de intervenções psiquiátricas, psicoterapêuticas e farmacológicas, assim como internações preventivas, em casos mais avançados, em que o indivíduo tenha sinalizado tentativas de colocar a própria vida em risco.
Terapias como TCC são focadas na prevenção do suicídio e podem ajudar o paciente a identificar gatilhos, desenvolver estratégias de enfrentamento e criar um plano de segurança.
Além disso, medicamentos antidepressivos e acompanhamento psiquiátrico são frequentemente utilizados para estabilizar o humor e reduzir os pensamentos suicidas.
Em casos de emergência, a internação psiquiátrica pode ser necessária para garantir a segurança do paciente.
A rede de apoio, incluindo familiares e amigos, é fundamental para ajudar o paciente a superar esse sintoma perigoso em conjunto com o acompanhamento psicológico.
É importante destacar que o diagnóstico de TDM deve ser feito por psicólogos e psiquiatras, que consideram a duração e a gravidade dos sintomas na avaliação, bem como a exclusão de outros transtornos, ou a inclusão das comorbidades, caso existam.
O que é transtorno depressivo maior?
O transtorno depressivo maior, também conhecido como depressão maior ou depressão clínica, é uma condição mental complexa e debilitante que afeta significativamente a qualidade de vida das pessoas que dela sofrem.
É importante atentar-se ao fato de que esse transtorno pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade, mas a probabilidade de início aumenta sensivelmente com a puberdade.
Esse problema mental é mais do que apenas sentir-se triste ou desanimado temporariamente: trata-se de uma perturbação emocional profunda e persistente que envolve uma série de sintomas físicos, emocionais e cognitivos que podem variar em intensidade e duração.
Além disso, quando presentes em conjunto, causam um impacto substancial nas atividades praticadas, nas relações interpessoais, no desempenho acadêmico e profissional, assim como na saúde física e emocional em geral.
Como lidar com o transtorno depressivo maior?
Embora as causas exatas da depressão maior ainda não sejam completamente compreendidas, sabe-se que o transtorno está associado a eventos traumáticos, histórico familiar de depressão, desequilíbrios hormonais e de neurotransmissores importantes na funcionalidade do cérebro.
O tratamento para essa condição geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar.
É muito importante que o diagnóstico seja buscado o mais precocemente possível, pois quando os sintomas se tornam crônicos, aumenta de modo substancial a probabilidade de desenvolver transtornos de personalidade, ansiedade, abuso de substâncias e diminui a probabilidade do tratamento trazer a resolução completa dos sintomas.
Psicólogos e psiquiatras são especialistas que podem oferecer tratamento adequado, como terapia, medicação ou uma combinação de ambos.
A psicoterapia é comumente usada para auxiliar o paciente a entender e enfrentar os sentimentos e as situações que podem desencadear os sintomas da depressão.
Em alguns casos, medicamentos antidepressivos podem ser prescritos por um psiquiatra, visando restabelecer o equilíbrio dos neurotransmissores no cérebro.
Vale destacar que o tratamento da depressão maior pode ser uma jornada contínua. A recuperação muitas vezes exige paciência e comprometimento.
Mesmo quando os sintomas se dissipam, é altamente recomendável continuar com as sessões de terapia, pois a depressão pode ressurgir.
Conclusão
Como visto no post “9 sintomas do transtorno depressivo maior (TDM)”, essa é uma condição complexa que exige atenção e tratamento adequado.
Reconhecer os sintomas precocemente e buscar ajuda profissional são passos cruciais para a recuperação.
Com o apoio adequado, a terapia e as estratégias de tratamento terapêuticos, é possível gerenciar os sintomas, recuperar o bem-estar emocional e melhorar a qualidade de vida.
Fonte (s): DSM V - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico]: DSM-5 / [American Psychiatric Association] – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.
12/09/2024 • há 2 meses