Como saber se sou alcoólatra?
Revisado pelo(a) Sr. Ari Henrique Faustino Batista, CRP/PR 0838955 , Psicologia
Beber em ocasiões especiais ou nos fins de semana é comum na rotina de muitas pessoas. No entanto, quando o consumo de álcool se torna frequente e difícil de controlar, pode indicar um transtorno por uso de álcool ou TUA (popularmente conhecido como “alcoolismo”).
Se a questão é o exagero na bebida, tanto quem bebe quanto as pessoas que convivem com essa pessoa precisam se informar sobre o assunto.
Desde já, é importante esclarecer que o termo "alcoólatra", ainda que difundido para falar de quem tem alcoolismo, é considerado inadequado por muitos especialistas.
Isso porque ele significa "adorador do álcool" -- uma expressão que reforça o estigma do dependente como uma pessoa "incapaz de resistir aos próprios desejos".
O alcoolismo é uma doença, por isso, o termo alcoolista é o mais adequado, uma vez que indica que a pessoa sofre de um problema de saúde.
Para saber mais sobre o assunto, confira o post "Como saber se sou alcoólatra?" a seguir.
O QUE É ALCOOLISMO?
O alcoolismo é uma doença crônica que consiste na dependência alcoólica, que afeta profundamente a vida de uma pessoa.
Essa dependência faz com que seja um grande desafio controlar o consumo de álcool, o que traz prejuízos tanto para a saúde física quanto mental.
Quando doente, o alcoólatra prefere continuar bebendo, mesmo sabendo os riscos e malefícios do álcool, pois desenvolveu uma dependência física e psicológica.
Entre alguns dos sinais de que o consumo pode ser problemático, estão:
- Aumento da tolerância ao álcool - há a necessidade de beber cada vez mais para sentir os mesmos efeitos;
- Sintomas de abstinência - tremores, ansiedade, náuseas ou insônia quando fica sem beber;
- Dificuldade em parar - tentativas frustradas de reduzir ou controlar o consumo;
- Prejuízos em diversas áreas da vida - conflitos familiares, queda no desempenho profissional ou problemas de saúde;
- Priorização do álcool - deixar de lado atividades importantes para beber ou se recuperar dos efeitos.
CAUSAS DO ALCOOLISMO
Não existe uma causa específica para uma pessoa ter alcoolismo, uma vez que essa condição é uma reunião de múltiplos fatores.
Por exemplo, o indivíduo pode ter influência da família ou de amigos para beber, ou sentir um grande estresse relacionado a qualquer aspecto de sua vida.
Também é possível que ele tenha predisposição genética ou que possua transtornos que são fator de risco para o alcoolismo.
Há, ainda, os fatores psicológicos que estão associados ao uso, como a depressão, a fobia social e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Além disso, uma pessoa pode beber demais buscando controlar sentimentos negativos que possui ou se esquecer deles.
Outra possível causa para o vício no álcool é a resposta individual de cada pessoa em relação à metabolização do álcool pelo organismo.
O QUE É BEBER SOCIALMENTE?
A expressão "beber socialmente" geralmente é usada para definir o consumo de bebidas alcoólicas dentro de um padrão considerado aceitável, em oposição ao consumo visto como problemático.
Este é o caso das bebidas ingeridas dentro de um contexto de interação social, como encontros com amigos ou eventos familiares.
No entanto, é crucial compreender que não existe consumo totalmente seguro.
Segundo um estudo global publicado no fim de agosto de 2018, o consumo de duas doses por dia de bebida alcoólica (dependendo do seu teor alcoólico) aumenta as chances de desenvolver diversos tipos de câncer em 7% em relação aos abstêmios. Para um consumo de cinco doses diárias, o risco cresce em 37%.
A linha entre uso social e problemático é tênue, muitos casos de dependência começam como consumo aparentemente moderado.
Além disso, "beber socialmente" pode esconder um comportamento prejudicial, com características de dependência e que ultrapassa o consumo considerado moderado.
O QUE É UM CONSUMO MODERADO DE ÁLCOOL?
O consumo moderado é um padrão de ingestão de álcool em que os riscos de desenvolver problemas de saúde ou dependência são considerados baixos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse limite seguro é estabelecido em até duas doses diárias, com pelo menos dois dias de abstinência por semana. Em termos práticos, duas doses equivalem a:
- 2 latas de cerveja comum com teor alcoólico de 4% (660 ml);
- 2 taças de vinho ou espumante (200 ml);
- 2 shots de bebidas destiladas como tequila, vodca ou cachaça (60 ml);
- 2 taças pequenas de licor ou aperitivo (100 ml).
Há quem faça ingestão de grande quantidade de álcool e, mesmo que seu corpo não tenha metabolizado a substância, não sinta seus efeitos.
Quando uma pessoa é muito tolerante aos efeitos do álcool, tende a ingeri-lo em maior quantidade, o que potencializa as chances de se tornar alcoólatra.
A OMS adverte que não existe um limite totalmente seguro de ingestão de bebida alcoólica e que algumas pessoas podem sofrer prejuízos, mesmo que sua ingestão de álcool esteja dentro do consumo considerado moderado.
QUANDO O CONSUMO DE ÁLCOOL É ARRISCADO?
Se a pessoa está bebendo cada vez mais em um período cada vez menor, esse é um sinal de alerta.
Começar a beber todos os dias ou muitas doses em pouco tempo, em um mesmo momento, também é outro sinal de alcoolismo.
Especificamente, os homens que bebem 5 ou mais doses em até duas horas e uma mulher que bebe 4 ou mais doses no mesmo tempo, têm alto risco de se tornarem alcoólatras.
Quando uma pessoa já sofre com o problema e é homem, faz a ingestão de 15 ou mais doses por semana. Se for uma mulher alcoólatra, ela faz a ingestão de 8 ou mais doses.
QUANDO BEBER SE TORNA UM PROBLEMA?
Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleça parâmetros quantitativos para o consumo de álcool, o verdadeiro problema vai além dos números.
O que realmente define quando o beber se torna prejudicial é o impacto que esse hábito causa na vida do indivíduo como um todo (em sua saúde física, relações pessoais, desempenho profissional e bem-estar emocional).
Por isso, uma pessoa que ficou embriagada em uma determinada ocasião não será necessariamente dependente do álcool - embora episódios como esse representem risco mais elevado para acidentes e situações fatais.
Por outro lado, uma pessoa com uma alta tolerância para bebidas alcoólicas e que não apresenta sinais de estar embriagada, mesmo após um grande consumo, pode, na verdade, indicar que está sofrendo com alcoolismo.
Assim sendo, é muito importante se atentar aos sinais que indicam a presença da doença, além de avaliar os seus impactos nas diferentes esferas da vida, como pessoal e profissional.
COMO SABER SE SOU ALCOÓLATRA?
Avaliar a própria condição e reconhecer-se como dependente do álcool não é uma tarefa simples.
Porém, existem alguns sinais e sintomas que indicam que uma pessoa está se tornando alcoolista ou apresenta um grande risco para essa doença. Conheça os mais comuns abaixo.
1. TER UM PADRÃO DE CONSUMO PREJUDICIAL
É possível que um indivíduo seja um alcoólatra se apresentar os seguintes padrões de consumo prejudiciais:
- Consumo solitário - frequentemente beber sozinho, sem ocasiões sociais específicas que justifiquem o consumo;
- Uso como mecanismo de enfrentamento - beber com o objetivo de aliviar estresse, ansiedade ou outros estados emocionais negativos;
- Perda de controle - dificuldade em parar depois de começar a beber;
- Compulsão matinal - sentir necessidade de consumir bebidas alcoólicas logo pela manhã ou a qualquer momento do dia;
- Falhas na abstinência - tentativas frustradas de permanecer sem beber por períodos determinados (como uma semana);
- Substituição de bebidas - substituir uma bebida por outra na tentativa de controlar a ingestão de álcool;
- Comportamento oculto - beber escondido das outras pessoas;
- Ilusão de controle - manter a crença de que pode parar quando quiser, apesar de repetidas falhas nas tentativas de redução ou abstinência.
2. VIVENCIAR PREJUÍZOS PROFISSIONAIS, FAMILIARES E SOCIAIS
A bebida gera diversos prejuízos na vida de uma pessoa que é viciada em álcool:
- faltar ao trabalho em função do excesso de bebida;
- perder o emprego ou o ano letivo devido aos problemas causados pelo álcool;
- receber conselhos de familiares e amigos sobre diminuir o consumo da bebida;
- ficar irritado quando seu consumo de álcool é questionado por alguém;
- afastar-se dos familiares e dos amigos para beber sem ser incomodado;
- evitar eventos sociais em que não poderá consumir álcool à vontade;
- rompimento de relações importantes (amizades, namoros, casamentos) devido ao comportamento quando embriagado;
- perder amigos e parceiros amorosos por beber demais;
- ficar violento quando bebe;
- colocar-se em situações perigosas devido à embriaguez;
- agredir verbalmente ou fisicamente as pessoas ao seu redor.
3. APRESENTAR ALTERAÇÕES EM EXAMES LABORATORIAIS E CONDIÇÕES DE SAÚDE
O álcool faz mal ao organismo, podendo provocar uma série de doenças.
Por esse motivo, é possível perceber que o consumo da substância está exagerado quando o indivíduo passa a ter alterações em seus exames laboratoriais e condições de saúde, como:
- aumento dos níveis mais altos de glicose, colesterol e triglicerídeos;
- sofrer alterações em exames que estudam as enzimas do fígado;
- apresentar uma elevação da pressão arterial;
- piora na função renal e desequilíbrios eletrolíticos;
- maior risco de arritmias cardíacas;
- deficiência vitamínicas (principalmente vitaminas do complexo B);
- perder o apetite ou se alimentar mal;
- apresentar disfunção sexual (homens) e redução da libido;
- sofrer “apagões” de memória em função do álcool;
- ter sinais de tolerância ao álcool (necessitar de doses cada vez maiores).
4. APRESENTAR CONFUSÃO MENTAL
O consumo prolongado e excessivo de álcool pode levar a significativas alterações nas funções cognitivas, sendo a confusão mental e a lentidão do raciocínio sintomas característicos do quadro.
Estes sinais se desenvolvem de forma gradual e progressiva e têm como características principais:
- comprometimento da clareza mental e capacidade de concentração;
- processamento de informações mais lento e dificuldade em tomar decisões;
- problemas de memória recente e organização do pensamento;
- desorientação temporoespacial em casos mais avançados.
Quanto maior o tempo de vício, mais a pessoa fica prejudicada em seu raciocínio, sendo crucial a intervenção profissional imediata para evitar danos irreversíveis.
A recuperação das funções cognitivas é possível, mas requer tratamento especializado e abstinência prolongada.
5. SOFRER MUDANÇAS NO SONO E NA FOME
Uma pessoa alcoólatra também costuma sofrer mudanças no sono, porque o álcool provoca relaxamento e sono.
Dessa forma, ela pode ter dificuldade para dormir sem o ingerir, levando a problemas sérios de insônia, além de despertar frequentemente durante a noite. Gerando fadiga durante o dia, mesmo após horas na cama.
Além dos distúrbios do sono, o doente também pode sofrer com falta de apetite (o álcool fornece calorias "vazias"), substituindo o alimento por bebidas alcoólicas.
Ocorrendo o risco de gerar deficiências vitamínicas (principalmente B1 e B12) e desequilíbrios eletrolíticos.
6. PASSAR POR ALTERAÇÕES FREQUENTES DE HUMOR
Uma pessoa viciada em álcool frequentemente apresenta alterações de humor porque sente prazer e relaxamento. Então, quando bebe, se torna mais alegre, desinibida e tem sensações positivas.
São essas reações (euforia, desinibição, redução temporária da ansiedade) que fazem com que ela busque o álcool cada vez mais.
Entretanto, quando ela já não bebe há tempo suficiente para não haver mais álcool no seu organismo, o oposto acontece. Ou seja, ela começa a sentir irritabilidade, estresse e sentimentos negativos.
Se a bebida provoca essas variações de humor, é fundamental procurar o auxílio de um profissional da saúde, como o psiquiatra, para o diagnóstico.
7. TER A PERCEPÇÃO DE QUE O ÁLCOOL ESTÁ TRAZENDO PREJUÍZOS
É possível perceber que uma pessoa é alcoólatra quando ela mesma nota que o álcool está trazendo prejuízos, como:
- perceber que o álcool está atrapalhando a vida em família e o trabalho;
- notar que os prejuízos relacionados ao álcool se agravaram nos últimos meses;
- ter a sensação de que aproveitaria mais a vida sem beber;
- Se sentir culpada pelo próprio padrão de consumo de álcool.
8. APRESENTAR SINTOMAS DE SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA
Um outro aspecto que pode indicar alcoolismo é se a pessoa tem sintomas de abstinência quando fica sem ingerir álcool, como:
- náuseas, vômitos, sudorese excessiva, tremores, taquicardia, delírios e alucinações ao ficar sem beber;
- ficar ansiosa, irritada, depressiva ou violenta quando não pode ingerir álcool;
- continuar bebendo para evitar a manifestação desses sintomas.
QUANDO É HORA DE BUSCAR AJUDA?
Ao se identificar com alguns dos sinais listados acima ou acreditar que um familiar esteja enfrentando problemas com o álcool, é necessário buscar ajuda médica para lidar com essa dependência, preferencialmente de um psiquiatra para avaliação e possível medicação.
O alcoolismo é uma doença crônica e que não tem cura, mas o tratamento com medicamentos, auxílio de um psicólogo e internação (quando necessário) possibilita que a pessoa se afaste do álcool e recupere sua qualidade de vida.
Frequentar grupos de apoio, fazer exercícios físicos, desenvolver hobbies, reconstruir relações sociais saudáveis e criar novas rotinas também são medidas importantes.
FAQ (PERGUNTAS FREQUENTES)
Exagerar na bebida pode ser considerado alcoolismo?
O exagero ao consumir álcool pode ser um dos sinais do alcoolismo, mas não indica, isoladamente, que alguém é alcoólatra.
Quando a pessoa pode ser considerada alcoólatra?
É possível considerar uma pessoa alcoólatra quando o consumo de álcool está afetando diversos aspectos de sua vida, quando relacionamentos estão sendo desfeitos e o emprego está em risco, por exemplo.
Como se inicia o alcoolismo?
A doença se inicia gradualmente, conforme a necessidade de ingerir o álcool aumenta.
Mas é possível dizer que o alcoolismo se instalou quando a pessoa não consegue mais evitar o consumo de bebida alcoólica.
Quais são as principais causas do alcoolismo?
Não há apenas uma causa para o vício em álcool, podendo ele ser motivado por fatores ambientais, familiares, psicológicos e até genéticos.
Quem bebe uma vez por semana pode ser alcoólatra?
Não necessariamente, porém, beber toda semana é um fator de risco para o alcoolismo e pode levar à dependência de álcool a longo prazo.
O que é depressão alcoólica?
A depressão alcoólica se trata de um quadro depressivo que está relacionado ao consumo desenfreado de álcool.
Ela pode acontecer quando uma pessoa que já sofre com depressão tem os seus sintomas piorados pelo abuso do álcool, já que o mesmo reduz a eficácia dos medicamentos antidepressivos.
Também pode surgir quando uma pessoa já recuperada de um quadro depressivo volta a manifestar seus sintomas, devido à ingestão descontrolada da substância.
A depressão alcoólica requer tratamento específico, pois abordar apenas a depressão sem tratar a dependência química tende a ser ineficaz a longo prazo.
É possível parar de beber sozinho?
Dificilmente uma pessoa alcoólatra conseguirá parar de beber sozinha, uma vez que o alcoolismo se trata de uma doença.
Isso significa que não basta a força de vontade da pessoa viciada, o acompanhamento profissional é essencial.
Como parar de beber de vez?
A forma como cada pessoa parará de beber e vencerá o vício é muito particular, uma vez que há diversos tratamentos que podem ajudar nesses casos.
Entretanto, buscar auxílio médico e psicológico é fundamental para acabar com ele.
CONCLUSÃO
Como mostrado neste post "Como saber se sou alcoólatra?", esta é uma doença muito séria, que pode prejudicar a saúde mental e física, além de interferir na relação com outras pessoas.
Se houver suspeita de que alguém é dependente do álcool, é fundamental buscar auxílio de profissionais de saúde que possam ajudar a lidar com o quadro.
O médico (preferencialmente um psiquiatra) pode ajudar no alívio desses sintomas, para reduzir as chances de o alcoólatra sentir necessidade de beber novamente.
10/06/2025 • há 20 dias
