O que é pé diabético? Conheça os sintomas, causas e tratamentos
Revisado pela Equipe de Redação da Medprev
Uma das complicações mais graves da diabetes é o chamado pé diabético, um problema apontado como causa de 85% das amputações de membros inferiores na rede pública. Esse é um quadro que tem um alto custo humano e financeiro, por isso é muito importante saber o que é pé diabético e quando procurar tratamento.
De acordo com o Ministério da Saúde, o número de pessoas afetadas pela diabetes no país aumentou 61,8% entre 2006 e 2016, atingindo 8,9% da população. Em consequência, a incidência de complicações dessa doença também cresceu, incluindo pé diabético, perda da visão, acidente vascular cerebral e infarto.
O que é pé diabético?
Pé diabético é uma complicação da diabetes caracterizada por uma ferida (úlcera) nos membros inferiores agravada por uma infecção, mas também pode englobar qualquer alteração de origem neurológica, ortopédica ou vascular que afete essa região do corpo.
Esse quadro costuma acontecer porque, com o passar do tempo, a diabetes leva a um problema chamado neuropatia. Essa situação causa um prejuízo aos nervos, resultando em deformações nos ossos e nos músculos dos pés e na redução da sensibilidade da pele.
Com isso, ao mesmo tempo em que os pés se tornam mais propensos a sofrer um machucado (bolhas, calos, traumas etc.), o paciente perde parte de sua capacidade de sentir dor, o que faz com que ele não perceba que tem uma ferida e, assim, não procure tratamento.
Além disso, as pessoas com diabetes tendem a apresentar problemas de circulação, o que dificulta a chegada do sangue até os membros mais distantes do coração, especialmente os pés. Em consequência, essa região recebe menos oxigênio, o que prejudica a cicatrização e pode levar à morte do tecido, conhecida como necrose ou gangrena.
Como esse quadro evolui de forma silenciosa, o paciente passa semanas ou meses com uma úlcera aberta, ou seja, uma porta de entrada para microrganismos causadores de infecções, principalmente as bactérias. Dessa forma, geralmente a lesão já está muito avançada quando a pessoa procura o médico, levando a um alto risco de amputação.
Sintomas do pé diabético
Buscar atendimento médico precoce é a melhor forma de evitar que um machucado simples se alastre e leve à amputação. Por isso, pessoas com diabetes e seus familiares devem estar atentos a estes sinais e sintomas do pé diabético, que afetam pés e tornozelos:
1. Sinais e sintomas de neuropatia diabética
- Perda da sensibilidade
- Queimação
- Formigamento
- Dormência
- Dor na forma de agulhadas, pontadas ou facadas
- Fraqueza (incluindo as pernas)
- Cãibras
Estes sintomas geralmente pioram à noite, quando o paciente se deita, e melhoram durante o dia, conforme a pessoa se movimenta e faz suas atividades.
2. Sinais e sintomas na pele
- Ressecamento
- Fissuras (rachaduras)
- Vermelhidão
- Aumento da temperatura
- Inchaço
- Alterações nas unhas
A combinação desses sintomas pode indicar de forma precoce a instalação do chamado pé de Charcot, uma condição que leva à fragilidade óssea e favorece a ocorrência de luxações e fraturas.
O inchaço em um dos pés, por exemplo, aparece de duas semanas até dois meses antes de qualquer alteração óssea revelada por uma radiografia.
3. Sinais e sintomas ortopédicos
- Ferida na sola do pé (úlcera plantar)
- Joanete (hálux valgo)
- Dedos em martelo
- Dedos em garra
- Pé cavo (aumento da curvatura)
- Atrofia da musculatura do pé
- Limitação do movimento da articulação
Em geral, esses sinais são identificados apenas pelo médico especialista e podem caracterizar o pé de Charcot crônico, um fator que aumenta o risco de amputação quando ocorre simultaneamente a uma infecção.
Causas do pé diabético
O pé diabético é causado por uma sequência de fatores que fazem uma pequena ferida evoluir para a necrose do tecido, pois o organismo é incapaz de curá-la. Dessa forma, a causa desse problema é o somatório de eventos como:
- Lesões nos pés: bolhas, calos, micoses, traumas (topadas em quinas de móveis, cortes durante a pedicure etc.);
- Pedicure inadequada: corte das unhas em formato que favoreça que elas encravem, remoção da cutícula, retirada dos calos sem orientação médica;
- Calçados inapropriados: calçados abertos (chinelos, sandálias), salto alto, sapatos de bico fino, calçados que apertam ou “pegam” determinado ponto dos pés;>
- Neuropatia diabética: o excesso de glicose afeta os nervos e diminui a sensibilidade à dor, fazendo com que o paciente demore em buscar tratamento;
- Problemas de circulação: a glicemia elevada e as placas de gordura que se formam nas artérias prejudicam a circulação sanguínea, de forma que as células de defesa e o oxigênio não chegam aos pés em quantidade suficiente para combater infecções e regenerar o tecido;
- Presença dos fatores de risco: diabetes mal controlada, hipertensão, obesidade, colesterol alto, tabagismo, sedentarismo, histórico familiar de pé diabético e úlcera e amputação prévias.
Tratamento do pé diabético
Antigamente, o único tratamento para o pé diabético era a amputação, com perda parcial ou total desse membro, incluindo parte da perna em casos mais graves. Hoje, porém, existem outros recursos terapêuticos para tentar evitar ou pelo menos retardar essa medida mais drástica.
Para isso, porém, recomenda-se que os pacientes com pé diabético procurem atendimento médico e recebam tratamento em até 24 horas, o que aumenta as chances de sucesso.
O tratamento depende do grau das lesões. Em feridas não infeccionadas, o tratamento pode consistir na limpeza e no uso de curativos especiais.
Já no caso de infecção, será necessário o uso de antibióticos por via oral ou endovenosa, dependendo das condições da circulação sanguínea do paciente. Podem ser associados medicamentos para aumentar a irrigação sanguínea dos membros inferiores.
Além disso, deve-se avaliar a necessidade do debridamento cirúrgico, um procedimento feito em ambiente hospitalar que consiste na limpeza da ferida e na remoção do tecido necrosado. Dessa forma, a extensão da infecção é reduzida, favorecendo a cicatrização.
Existem ainda métodos inovadores, como a oxigenoterapia hiperbárica, utilizados em feridas muito avançadas. Nesse caso, o paciente fica dentro de uma máquina com pressão atmosférica reduzida e concentração de oxigênio a 100%, o que estimula a formação do colágeno e a cicatrização dos tecidos.
Outro recurso moderno é a fototerapia, que consiste na aplicação da luz por um cabo de fibra ótica com a finalidade de destruir as bactérias. Embora esses dois recursos sejam capazes de reduzir o risco de amputação, eles ainda são pouco disponíveis devido ao seu alto custo.
Por isso, agora que você sabe o que é pé diabético, examine seus pés todos os dias em busca de sinais dessa complicação e procure o médico imediatamente caso identifique alguma alteração. Manter um bom controle da glicemia e ter os pés examinados pelo médico endocrinologista, cirurgião vascular ou enfermeiro também é fundamental.
Fonte(s): Brasil.gov, Endocrino.org, Scielo, Saúde Abril, Hospital Sírio Libanes e Portal Educação
24/02/2022 • há 3 anos