Como saber se tenho lúpus?
Revisado pelo(a) Dra. Laís Yurie Facimoto, CRM/PR 41488 , Reumatologia - RQE 33962
O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença inflamatória autoimune que pode atingir diversos órgãos e tecidos no corpo. Acomete homens e mulheres, sendo mais comum em mulheres jovens, na faixa etária reprodutiva, mas também pode acometer crianças e pessoas em idades avançadas.
Estima-se que, no Brasil, estima-se uma incidência de lúpus eritematoso sistêmico (LES) anual de aproximadamente 4,8 a 8,7 casos por 100.000 habitantes.
Embora a doença seja considerada rara, é importante estar atento à manifestação dos seus sintomas e buscar atendimento médico ao suspeitar da condição.
A manifestação da doença varia para cada pessoa, podendo impactar na qualidade de vida, exigindo cuidados contínuos e tratamentos específicos.
Se você já se perguntou “Como saber se tenho lúpus?” ou quer aprender mais sobre esse tema, confira o conteúdo a seguir.
O que é o lúpus?
O lúpus é uma doença autoimune que faz com que o sistema imunológico do paciente não reconheça as células do próprio organismo.
Como consequência, há ataques ao tecido conjuntivo, provocando inflamações e danos teciduais.
As causas do lúpus não são completamente conhecidas, mas há medidas que podem ser tomadas para ajudar a diminuir a atividade da doença.
Na maioria dos casos, os sintomas costumam afetar áreas ou órgãos específicos, não se propagando por todo o corpo de forma simultânea.
Existe o lúpus eritematoso cutâneo e o lúpus eritematoso sistêmico; contudo, o mais preocupante é o lúpus eritematoso sistêmico (LES), que pode afetar múltiplos órgãos e apresenta sintomas como fadiga extrema, dores articulares, erupções cutâneas e febre.
A forma de diagnóstico do lúpus ocorre por meio de análise clínica e exames laboratoriais.
Formas de apresentação do lúpus
- Lúpus eritematoso cutâneo;
- Lúpus eritematoso sistêmico (LES);
- Lúpus neonatal.
1. Lúpus Cutâneo
Quando as lesões teciduais são exclusivas da pele, a doença recebe o nome de lúpus eritematoso cutâneo.
A manifestação cutânea mais comum é o lúpus cutâneo discoide, que é composto por lesões em forma de disco que geralmente aparecem no rosto, couro cabeludo, pescoço e orelhas.
Essas lesões podem deixar cicatrizes e, em alguns casos, resultar em perda de cabelo nas áreas afetadas.
As erupções podem ser agravadas pela exposição ao sol, já que pessoas com lúpus tendem a ser altamente sensíveis à luz solar (fotossensibilidade).
Existem outras formas de lúpus cutâneo, como o lúpus cutâneo agudo. Essa forma pode causar vermelhidão na face e é conhecida como eritema malar ou em “asa de borboleta”, sendo altamente fotossensível e podendo indicar maior risco de desenvolver o lúpus eritematoso sistêmico (LES).
O tratamento inclui o uso de protetores solares, medicamentos tópicos, imunomoduladores, e, em casos mais graves, imunossupressores para controlar as erupções.
2. Lúpus eritematoso sistêmico (LES)
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é a forma mais grave da doença, podendo afetar diversas partes do corpo, como:
- pele;
- articulações;
- rins;
- coração;
- pulmões;
- cérebro.
Ele se caracteriza por inflamações que ocorrem em múltiplos órgãos e tecidos, desencadeando uma grande variedade de sintomas.
Os sintomas do LES podem incluir:
- erupções na pele;
- inflamações articulares;
- fadiga;
- febre;
- alterações sanguíneas;
- dificuldade para respirar;
- problemas neurológicos;
- problemas renais.
O LES também pode causar problemas neurológicos, como convulsões e mudanças de comportamento, além de complicações como inflamação do coração (pericardite) e aumento do risco de doenças cardiovasculares.
A gravidade do LES varia para cada paciente, ou seja, algumas pessoas podem apresentar sintomas leves, como lesões de pele, dores articulares e fadiga, enquanto outras podem enfrentar complicações graves, como insuficiência renal ou comprometimento do sistema nervoso central.
Como o LES tende a ter períodos de crises e remissões, o monitoramento contínuo pelo reumatologista é essencial para o manejo da doença.
3. Lúpus neonatal
O lúpus neonatal é uma condição mais rara que afeta bebês recém-nascidos de mães que possuem autoanticorpos específicos associados ao lúpus.
Esses anticorpos podem atravessar a placenta e afetar o feto, resultando em sintomas como:
- erupções cutâneas;
- problemas hepáticos;
- anemia;
- bloqueio cardíaco congênito (em casos mais graves).
As erupções cutâneas geralmente desaparecem sozinhas nos primeiros meses de vida, à medida que os anticorpos maternos são eliminados do sistema do bebê.
Embora o lúpus neonatal possa causar preocupações imediatas, a maioria dos casos não leva a complicações de longo prazo, exceto no caso de bloqueio cardíaco congênito, que pode exigir intervenção médica mais séria, como a implantação de um marcapasso.
Mulheres com lúpus ou que possuem os anticorpos associados devem ser acompanhadas de perto durante a gravidez (além do acompanhamento pelo obstetra) para minimizar os riscos e garantir uma intervenção precoce, se necessário.
Como saber se tenho lúpus?
O desequilíbrio no sistema imunológico causado pelo lúpus resulta em diversos sintomas, que variam de acordo com o tipo da doença, os órgãos e as regiões do corpo afetadas.
A princípio, um dos sinais mais comuns é a fadiga extrema, que interfere diretamente nas atividades diárias. Ela deixa o paciente exausto, mesmo após longos períodos de descanso.
Além da fadiga, pessoas com lúpus também podem sofrer com dores articulares, especialmente nas mãos, punhos e joelhos (que geralmente vêm acompanhadas de inchaço e rigidez matinal, o que dificulta o movimento).
A pele também pode ser afetada com erupções cutâneas, como a característica "asa de borboleta" que aparece no rosto, cobrindo o nariz e as bochechas. A exposição ao sol pode provocar novas erupções ou piorar as já existentes.
O lúpus também pode causar febre sem causa aparente e queda de cabelo, além de feridas na boca.
Em muitos casos, há variações no estado de saúde, com períodos de crises intensas, chamadas de "flares", seguidos por remissões, nas quais os sintomas diminuem ou desaparecem temporariamente.
Considerando a complexidade da doença e a variedade de seus sintomas, para obter o diagnóstico é necessário passar por consulta médica para avaliação completa de história e exame físico, assim como a realização de exames.
É importante lembrar que, isoladamente, os sintomas do lúpus não indicam a presença da doença, mas é preciso buscar orientação médica ao notar a presença de um ou mais deles de forma simultânea.
Entre os sinais de lúpus mais comuns, estão:
- fraqueza;
- febre e mal-estar frequente;
- dores nas articulações;
- rigidez articular e inchaços;
- rash cutâneo (vermelhidão na face em forma de “borboleta” sobre as bochechas e a ponta do nariz);
- queda de cabelo acentuada;
- lesões na pele que surgem ou pioram quando expostas ao sol;
- dificuldade para respirar;
- sensibilidade à luz do sol;
- dor de cabeça;
- problemas de memória;
- confusão mental;
- linfonodos aumentados (ínguas ou caroços);
- feridas na boca.
Casos mais graves
Nos casos mais graves, o lúpus pode afetar órgãos internos, como rins (causando nefrite lúpica), coração, pulmões e até o cérebro, levando a complicações como inflamação dos tecidos, problemas respiratórios, insuficiência renal ou alterações neurológicas.
Esses sintomas mais severos podem comprometer a vida do paciente. Por esse motivo, o acompanhamento médico e o tratamento contínuo são essenciais para evitar danos permanentes e melhorar a qualidade de vida.
Diagnóstico do lúpus
O diagnóstico do lúpus pode ser desafiador devido à grande variedade de sintomas que a doença causa e ao fato de que muitos deles podem se assemelhar a outras condições.
Não há um exame único que possa diagnosticar o lúpus de forma definitiva. O diagnóstico se dá a partir da combinação de exames laboratoriais, histórico médico, avaliação dos sintomas e exame físico.
Existem alguns exames que são mais utilizados para o diagnóstico da doença, conheça alguns deles abaixo.
Exames laboratoriais
O exame de anticorpos antinucleares (FAN) faz parte dos critérios de classificação, detectando a presença de anticorpos que atacam o núcleo das células e auxiliando na investigação de doenças autoimunes.
Exames de sangue e urina são ferramentas importantes no diagnóstico do lúpus. Um dos testes mais comuns é o hemograma, que pode mostrar alterações sanguíneas como anemia, alterações no número de leucócitos, linfócitos e de plaquetas.
O exame de urina auxilia na detecção de proteínas ou células anormais que podem indicar problemas nos rins.
Outros exames incluem a dosagem de anticorpos anti-DNA e anti-SM, que são mais específicos para o LES.
Além disso, os exames de função renal e hepática são usados para avaliar se existe comprometimento de outros órgãos.
É importante salientar que nenhum exame laboratorial isolado é capaz de confirmar ou afastar a doença.
Exame físico
O lúpus é uma doença caracterizada por períodos de crises e remissões, e o paciente pode apresentar erupções cutâneas, principalmente em áreas expostas ao sol, dor e inflamação articular, por vezes acompanhadas de:
- inchaço;
- calor;
- vermelhidão nas articulações;
- úlceras orais não dolorosas.
Esses sintomas podem ser identificados em um exame físico, além da anamnese com o paciente.
Como auxílio para o diagnóstico, podem ser considerados alguns critérios classificatórios, como os descritos pela American College of Rheumatology (ACR) e pela Liga Europeia contra o Reumatismo (EULAR), que listam as principais formas de acometimento pelo lúpus e exames relacionados.
Radiografia do tórax
A radiografia do tórax é um exame de imagem que pode ser utilizado no acompanhamento de pacientes com lúpus, especialmente, para identificar possíveis complicações pulmonares e cardíacas.
Embora a radiografia do tórax não seja usada para diagnosticar o lúpus diretamente, ela é uma ferramenta importante para avaliar a presença de acúmulo de líquido ao redor dos pulmões, que pode causar sintomas como dor no peito, dificuldade para respirar ou tosse.
Além disso, a radiografia pode ajudar a detectar problemas cardíacos, como o acúmulo de líquido ao redor do coração, sugestivo de pericardite (inflamação do pericárdio, a membrana que envolve o coração), outra complicação que pode ocorrer em pessoas com lúpus.
Biópsia renal
A biópsia renal é um procedimento importante no diagnóstico e manejo de complicações renais associadas ao lúpus, especificamente na identificação da nefrite lúpica, uma inflamação dos rins que pode ocorrer em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES).
Esse procedimento pode ser indicado quando há presença de proteína ou sangue na urina, ou alteração na função renal.
Durante a biópsia renal, um pequeno pedaço de tecido do rim é removido para ser examinado ao microscópio. O objetivo é identificar o grau de inflamação, danos e cicatrizes nos rins, o que ajuda os médicos a determinar o tipo e a gravidade da nefrite lúpica.
Os resultados da biópsia renal auxiliam no tratamento, já que o lúpus pode afetar os rins de maneiras muito variadas.
Tratamento do lúpus
Não há cura definitiva para o lúpus, mas existem diversas formas de tratamento que podem auxiliar a reduzir os sintomas.
Encontrar os gatilhos que podem desencadear essa condição, como exposição à luz solar, infecções ou uso de certos tipos de medicamentos, é o primeiro passo.
Para todos os casos, o uso diário de protetor solar com fator de proteção alto, incluindo sua reaplicação ao longo do dia, é fundamental.
Conforme a intensidade dos sintomas e as condições de desenvolvimento da doença, em alguns casos, a aplicação de corticoides tópicos e o uso de imunomoduladores podem ser necessários.
Casos mais graves podem necessitar de imunossupressores e pulsoterapia.
Pessoas consideradas do grupo de risco da doença devem ter atenção redobrada aos sintomas.
É o caso das mulheres, especialmente aquelas com idade entre 15 e 40 anos. Dados mostram que o lúpus tem maior incidência em pessoas de etnia afro-americana, hispânica e asiática.
Outras precauções incluem carteira de vacina atualizada, prática de exercícios físicos, não fumar e adotar uma alimentação balanceada e rica em cálcio.
FAQ (Perguntas e respostas)
1. Quais são os primeiros sinais de lúpus?
Os primeiros sinais de lúpus podem variar, mas os mais comuns incluem fadiga extrema, dores articulares e musculares, erupções cutâneas (particularmente no rosto, em forma de “asa de borboleta”), febre inexplicada e sensibilidade ao sol.
Outros sintomas iniciais podem incluir queda de cabelo e feridas na boca.
2. Como o lúpus é diagnosticado?
O diagnóstico de lúpus é feito com base em uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e avaliação de sintomas.
Os médicos, comumente, solicitam exames de sangue, como o anticorpo antinuclear (FAN), além de exames de hemograma, urina e testes de função renal.
A análise dos sintomas e o histórico médico também são fundamentais para o diagnóstico.
3. Existe um exame específico para detectar o lúpus?
Não existe um exame único que diagnostique o lúpus de forma definitiva.
O diagnóstico é feito por meio de uma combinação do histórico de saúde, exame físico e de testes, incluindo exames de sangue (FAN, anti-DNA, anti-Sm), exames de urina e, em alguns casos, biópsias de órgãos afetados, como rins ou pele.
4. Quais exames são necessários para confirmar o lúpus?
Os exames mais comuns incluem o FAN, que detecta anticorpos antinucleares, e exames mais específicos, como os anticorpos anti-DNA e anti-Sm.
Exames de função renal e hepática, além de análises de urina, ajudam a identificar complicações nos órgãos.
Em alguns casos, pode ser necessária uma biópsia renal ou de pele para confirmação.
5. Quais são os órgãos mais afetados pelo lúpus?
O lúpus pode afetar múltiplos órgãos, incluindo a pele, articulações, rins, coração, pulmões e até o sistema nervoso.
A nefrite lúpica, que envolve inflamação nos rins, é uma das complicações mais graves.
Problemas cardíacos (como a pericardite) e pulmonares (como a pleurite) também são comuns.
6. O lúpus tem cura?
Atualmente, o lúpus não tem cura, mas os sintomas podem ser controlados com tratamento adequado.
O uso de medicamentos, como imunomoduladores e imunossupressores, faz parte do tratamento e pode ajudar a controlar a inflamação e a prevenir complicações graves.
O acompanhamento médico regular é essencial para manter a qualidade de vida do paciente.
Conclusão
Como visto no post “Como saber se tenho lúpus?”, esta é uma doença autoimune complexa e desafiadora de diagnosticar, devido à variedade de sintomas que pode apresentar e à sua semelhança com outras condições.
Para saber se uma pessoa tem lúpus, é essencial observar atentamente os sinais do corpo, como fadiga, dores articulares e erupções cutâneas, além de realizar uma avaliação médica completa.
Embora o lúpus não tenha cura, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem ajudar a controlar a doença.
O acompanhamento regular com o reumatologista é fundamental para o monitoramento da condição.
14/11/2024 • há 7 dias