Procura por burnout e seus sintomas aumenta 37% em 2024
Revisado pela Equipe de Redação da Medprev
Aumento de interesse pela síndrome de burnout está relacionada ao crescimento no número de diagnósticos oficiais e licenças de trabalho.
A busca online pela síndrome de burnout aumentou 37% em 2024 (de janeiro a julho), se comparada à média de pesquisas diárias em relação ao mesmo período de 2023.
De acordo com dados do Google Trends, ferramenta que analisa tendências de busca no Google, nunca houve tanto interesse pelo burnout no Brasil. Desde o início da série histórica, em 2004, o volume de pesquisas é maior em 2023 e 2024 do que em todos os outros anos anteriores.
Os locais que mais pesquisam sobre o tema são o Distrito Federal, Rondônia, Acre, Roraima e São Paulo.
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Aumento dos casos e papel dos órgãos oficiais de saúde
O aumento das pesquisas coincide com o aumento de casos. Caracterizada pelo esgotamento mental causado pelo excesso e/ou más condições de trabalho, a síndrome de burnout afastou 421 pessoas do trabalho em 2023. Esse é o maior registro do Brasil em uma década, de acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social.
A explosão de casos aconteceu a partir da pandemia. Em 2019, período pré-pandêmico, foram 178 casos. Em referência a 2023, o aumento é de 136%. No comparativo com 2014, com apenas 41 casos, o crescimento é de 1000%.
“O reconhecimento do burnout por órgãos oficiais como uma síndrome ocupacional tem papel importante na criação de políticas públicas de saúde mental e contribui para a reivindicação de melhores condições de trabalho", afirma Josiane Prado, psicóloga parceira da Medprev.
Josiane relata que o papel dos órgãos oficiais de saúde também atua em protocolos de tratamento e prevenção “Os órgãos responsáveis colaboraram também para a elaboração de protocolos de tratamento adequados e informa os trabalhadores sobre os riscos da sobrecarga laboral. Assim sendo, as pessoas estão cada vez mais informadas e sabem identificar melhor os sintomas e a relação com suas condições de trabalho, o que leva a busca por mais informações e tratamento”, diz a psicóloga.
Esse boom de pacientes diagnosticados com burnout têm alguns motivos aparentes, dentre eles seu reconhecimento pelos órgãos oficiais, o que incentiva a realização de mais pesquisas e protocolos sobre o assunto.
Muitos pacientes inicialmente procuram um clínico geral ao notarem os primeiros sintomas, como cansaço extremo e dificuldade de concentração, sendo posteriormente encaminhados para especialistas, como psicólogo ou psiquiatra, para um diagnóstico mais detalhado e tratamento específico.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a síndrome de burnout como um fenômeno ocupacional, e não como condição de saúde. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a categorização é motivada pela relação exclusiva com o trabalho, tornando o termo “burnout” não aplicável a outras áreas da vida.
Também há reconhecimento pelo CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), que incluiu o burnout na lista de doenças de trabalho em janeiro de 2022. No Brasil, tem o código QD85.
Mais recentemente, em julho deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou a inclusão da síndrome no Sistema Único de Saúde (SUS), com política de atenção integral ao paciente diagnosticado.
O texto prevê avaliação médica, acompanhamento psicológico, campanhas educativas e projetos de capacitação para os profissionais de saúde, com o objetivo de abordar as melhores soluções de tratamento.
Profissionais como psicólogos desempenham um papel fundamental nessas etapas, oferecendo apoio contínuo ao paciente para gerenciar o estresse e prevenir recaídas.
Em casos mais graves, a intervenção de um psiquiatra pode ser necessária, especialmente quando há sintomas de depressão ou ansiedade associados ao burnout. A não ser que haja recurso para votação pelo Plenário da Câmara, a proposta segue para aprovação do Senado.
Com a identificação da síndrome de burnout como um problema que acomete os cidadãos, o tema permanece em pauta e há mais investimento sobre seu diagnóstico e tratamento.
Em particular, a atuação conjunta de clínico geral e psiquiatra tem sido crucial para o diagnóstico precoce e o manejo eficaz dos sintomas.
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Burnout é a síndrome do século XXI, principalmente para mulheres e pessoas mais jovens
De acordo com a Future Forum, empresa de consultoria norte-americana, os mais afetados pelo burnout são as pessoas jovens.
Em uma pesquisa feita com 10.243 trabalhadores dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, França, Alemanha e Japão, 48% dos entrevistados que afirmaram estar esgotados tinham idade entre 18 e 29 anos.
Embora pesquisas com números gerais sobre o enfoque da relação das faixas etárias com a síndrome de burnout sejam escassas no Brasil, Marcos Mendanha, médico em saúde ocupacional, diretor e professor da Faculdade Cenbrap e autor do livro O que ninguém te contou sobre o Burnout, afirma que os jovens são os mais afetados.
Ele também atribui a vulnerabilidade dos jovens ao burnout com o aumento de ambições pessoais e existenciais, relacionadas ao grande leque de oportunidades profissionais disponíveis nos dias de hoje.
Debora Sorensen, psicóloga que atua na cidade de Denver, EUA, alega que as últimas gerações foram criadas sob muita pressão para conquistar grandes feitos. “Eles [pessoas jovens] começam suas carreiras em cenários caóticos em que quase não têm autonomia e liberdade para encontrar empregos significativos e bem pagos”, comentou para a emissora norte-americana CNBC.
Essa insatisfação profissional associada ao burnout também tem ligação com outro fenômeno do mercado de trabalho atual: os crescentes pedidos de demissão. Informações do Ministério do Trabalho apontam que 2023 registrou uma média de 20 mil demissões voluntárias por dia – 7,3 milhões durante o ano todo.
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A alta demanda de tarefas e responsabilidades que culminam em estados de colapso por exaustão é uma das razões para a onda de pedidos de demissão após a pandemia.
A respeito das diferenças de gênero, as mulheres sofrem mais com a síndrome de burnout. O levantamento da Future Forum indica que 46% das mulheres entrevistadas expressaram sinais de exaustão. Os homens marcaram uma taxa menor, de 37%.
Existe uma série de explicações para essa discrepância. As mulheres costumam trabalhar mais em subempregos do que os homens, ao mesmo tempo em que têm menos chances de serem promovidas. Outras razões são o cuidado com os filhos e a jornada dupla de trabalho, que também inclui afazeres domésticos.
Em muitos casos, o apoio de um psicólogo é essencial para ajudar essas mulheres a lidar com o estresse diário e a carga emocional acumulada. Quando a exaustão atinge níveis críticos, o encaminhamento para um psiquiatra pode ser necessário para um tratamento mais intensivo.
Referências: OPAS, WHO, VivaBem, Câmara dos Deputados, J.PUC-SP, BBC 1 e 2, UFMG, CNBC, Terra, Future Forum, Jornal da USP, GOV.BR e Forbes.
10/09/2024 • há 3 meses