Diferenças entre depressão bipolar e unipolar
Revisado pelo(a) Dra. Isabela Messias Rocha, CRM/MG 96131 , Psiquiatria Não possui RQE para Psiquiatria
A depressão é um transtorno mental que acomete cada vez mais pessoas anualmente, impactando nas relações pessoais e profissionais em diversos níveis. Embora o termo seja usado amplamente para todos casos de humor deprimido, há diferentes tipos e características relacionados.
Os sintomas da depressão podem ser tão debilitantes que interferem significativamente nas áreas de vida da pessoa, incluindo trabalho, relacionamentos e autocuidado.
Entre as principais categorias da doença estão a depressão bipolar e a depressão unipolar, que mesmo que compartilhem algumas semelhanças, apresentam diferenças em termos de sintomas, causas e tratamento.
Neste artigo, veja quais são as diferenças entre depressão bipolar e unipolar, suas principais características e sintomas.
O que é depressão bipolar?
A depressão bipolar é a fase depressiva do transtorno afetivo bipolar (TAB), portanto, ambas não devem ser confundidas.
O TAB é uma condição psiquiátrica complexa que afeta o humor, o pensamento e o comportamento das pessoas, podendo, na maioria dos casos, causar rebaixamento de humor – depressão bipolar.
Este tipo de depressão é caracterizado por uma alternância entre dois estados extremos:
- episódios de depressão profunda;
- episódios de mania ou hipomania intensa.
Durante os episódios de depressão, os indivíduos experimentam uma sensação avassaladora de tristeza, desesperança e perda de interesse nas atividades cotidianas.
Esses períodos podem ser acompanhados por sentimentos de fadiga, falta de energia, distúrbios do sono e do apetite, além de dificuldade de concentração e baixa autoestima.
Por outro lado, os episódios de mania são caracterizados por uma elevação extrema do humor, que pode se manifestar como euforia, grandiosidade ou irritabilidade intensa.
Durante esses períodos, os indivíduos muitas vezes se sentem cheios de energia e criatividade, têm um senso aumentado de autoestima e podem envolver-se em atividades arriscadas ou impulsivas, como gastos excessivos, comportamento sexual desinibido ou projetos grandiosos.
A mania é acompanhada por um aumento significativo na energia, o que pode resultar em uma redução da necessidade de sono, euforia, agitação, e inquietação, levando a um estado de hiperatividade.
Além dos episódios completos de mania e depressão, existe também o estado de hipomania, que é uma forma mais leve de mania.
Durante os episódios de hipomania, os sintomas são semelhantes aos da mania, mas geralmente menos intensos.
As pessoas em estado de hipomania podem se sentir produtivas, criativas e animadas, porém ainda conseguem manter um certo grau de funcionalidade sem a completa desorganização e sem os prejuízos sociais que caracterizam a mania.
O que é depressão unipolar?
A depressão unipolar, também referida como depressão maior ou depressão clínica, é um transtorno mental que se concentra exclusivamente em episódios de humor deprimido, sem a presença de episódios de mania ou hipomania.
O episódio de depressão unipolar é uma condição de extrema tristeza e pode ser caracterizado por uma gama de sintomas, como:
- humor persistentemente deprimido;
- perda de interesse ou prazer (anedonia);
- fadiga;
- distúrbios do sono;
- alterações no apetite;
- diminuição da energia;
- dificuldades de concentração.
Esses sintomas normalmente persistem ao longo de todo o episódio depressivo, afetando a funcionalidade e a qualidade de vida dos indivíduos afetados.
Quais as principais diferenças entre depressão bipolar e unipolar?
Um fator-chave que diferencia a depressão bipolar da unipolar é a presença de episódios de mania ou hipomania.
Os pacientes bipolares experimentam esses estados, enquanto os pacientes unipolares não.
A presença de mania leva a comportamentos arriscados, gastos excessivos e delírios de grandiosidade, enquanto a hipomania, uma forma mais branda de mania, traz os mesmos sintomas de certa forma, mais brandos, não impactando tanto na vida social do paciente.
Além desses fatores, também há algumas características que as tornam diferentes. Confira algumas a seguir.
1. Causas orgânicas
Pesquisas sugerem que há uma predisposição genética para ambos os tipos de depressão, mas a bipolaridade desencadeadora da depressão bipolar demonstra ter uma contribuição genética mais forte em comparação às causas da depressão unipolar.
Além disso, fatores biológicos desempenham um papel significativo na origem dessas condições.
No caso da bipolaridade, causadora da depressão bipolar, desequilíbrios químicos no cérebro, particularmente envolvendo neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina, têm sido relacionados à ocorrência de episódios maníacos e depressivos.
Já na depressão unipolar, questões hormonais, como as mudanças hormonais que ocorrem durante certos períodos da vida (durante a puberdade, gravidez e menopausa, por exemplo) podem influenciar a vulnerabilidade do paciente.
Ambos os tipos de depressão também podem ser influenciados por fatores ambientais, como estresse crônico, traumas, eventos significativos de vida e o ambiente familiar.
No caso da depressão bipolar, o uso de substâncias psicoativas, como álcool e drogas, pode desencadear ou exacerbar episódios maníacos ou depressivos.
No entanto, vale ressaltar que os gatilhos ambientais e os fatores de risco são pessoais e podem variar consideravelmente de pessoa para pessoa.
2. Curso e duração
Uma das diferenças marcantes entre as duas formas é o curso do transtorno.
A depressão bipolar é caracterizada por oscilações entre episódios de depressão e episódios de mania/hipomania.
Esses episódios podem durar semanas e meses, além de variar em gravidade.
Os episódios de depressão bipolar podem ser profundos e debilitantes, enquanto os episódios de mania/hipomania podem ser caracterizados por uma expansão extrema do humor, aumento de energia e comportamento impulsivo.
A transição entre esses estados pode ocorrer de forma abrupta ou gradual, influenciando a montanha-russa emocional que define a depressão bipolar, onde estas alterações se tornam cada vez mais perceptíveis no dia a dia do paciente pelas pessoas próximas.
Por outro lado, a depressão unipolar tende a ser mais constante em seu estado depressivo, com episódios que duram mais tempo, muitas vezes excedendo os seis meses, mas raramente ultrapassando um ano de tratamento.
Quando estas condições duram mais de um ano, podem ser classificadas como transtorno depressivo persistente, impactando a vida cotidiana dos indivíduos por longos períodos, e podendo durar pelo ao menos 2 anos.
Isso pode levar a um ciclo de recorrência, onde os sintomas diminuem em intensidade, mas não desaparecem completamente entre os episódios, estando presentes “mais dias sim do que não”.
Além disso, a frequência dos episódios também pode diferir entre os dois tipos de depressão.
Na depressão bipolar, os episódios de mania, hipomania e depressão podem ocorrer em intervalos irregulares e imprevisíveis.
Já na depressão unipolar, os episódios depressivos podem ser mais previsíveis em termos de duração e recorrência.
O ciclo da depressão bipolar pode exigir abordagens terapêuticas distintas em comparação com a depressão unipolar.
3. Idade
Outro aspecto importante é a idade de início dos sintomas. A depressão unipolar tende na maioria dos casos a se manifestar após os 25 anos, enquanto a bipolaridade geralmente começa antes dos 20 anos.
No caso da depressão unipolar, a ocorrência dos primeiros episódios após os 25 anos pode estar relacionada a uma combinação de fatores, mas basicamente surgem após gatilhos específicos da sua vida social.
Essa forma de depressão pode ser desencadeada por uma série de circunstâncias, incluindo estresses relacionados ao trabalho, relacionamentos, saúde e outras situações que tendem a aumentar conforme as pessoas envelhecem.
Já a bipolaridade tende a se manifestar por volta dos 20 anos e não necessariamente está relacionada com gatilhos específicos, sendo mais diretamente relacionada com fatores biológicos.
Há também ocorrências do surgimento do TAB tardio, tanto em adultos quanto em idosos, sendo desencadeadas após alterações biológicas ou de meios de convivência.
A compreensão das idades de início dos sintomas é relevante tanto para fins diagnósticos quanto para a escolha do tratamento adequado.
4. Sintomas específicos
Os sintomas específicos são destacados para diferenciar ainda mais os dois tipos de depressão.
A depressão unipolar não apresenta crises de ansiedade frequentes e sinais como intolerância do pensamento, irritabilidade, compulsões, euforia e hipersexualidade ou comportamento de busca compulsiva de prazer.
Em contrapartida, a bipolaridade traz à tona uma ampla gama de sintomas como parte de seus estados maníacos, incluindo impulsividade, comportamentos de risco, irresponsabilidade financeira e aumento da atividade sexual.
5. Impacto social e pessoal
A depressão unipolar, embora possa levar ao isolamento, pode passar despercebida pela família, amigos e ambiente profissional.
Além disso, a natureza constante dos episódios depressivos na depressão unipolar pode muitas vezes resultar em um impacto social e pessoal mais sutil.
As mudanças de humor menos acentuadas nem sempre são visíveis externamente, o que pode levar a uma subestimação da gravidade dos sintomas.
No entanto, isso não significa que a depressão unipolar seja menos debilitante, pois o sofrimento emocional interno e a interferência nas atividades diárias ainda podem ser intensos, mesmo que não demonstrados.
Já a bipolaridade pode causar uma série de prejuízos recorrentes, como mudanças frequentes de emprego devido às flutuações de energia e motivação, perdas financeiras resultantes de decisões impulsivas tomadas durante os episódios maníacos e impacto nos relacionamentos pessoais.
A instabilidade de humor da bipolaridade pode criar desafios significativos na manutenção de relacionamentos saudáveis, uma vez que os entes queridos podem ter dificuldade em lidar com os extremos da euforia e da depressão.
Também é importante ressaltar que os efeitos dos episódios maníacos podem se estender às responsabilidades parentais, afetando o bem-estar dos filhos e a dinâmica familiar, demandando uma intervenção mais rápida e efetiva.
Conclusão
Como visto no post "Diferenças entre depressão bipolar e unipolar", entender quais são as semelhanças e as diferenças entre esses dois tipos de transtorno depressivo é crucial para a identificação, o diagnóstico e o tratamento adequado de cada.
Enquanto ambos compartilham a característica central de episódios depressivos, a presença de episódios de mania, hipomania e suas características específicas é o ponto distintivo da depressão bipolar.
A depressão unipolar, com seus episódios persistentes de humor deprimido, pode se manifestar em fases mais tardias da vida e apresentar desafios de reconhecimento devido à sua presença mais discreta na vida e nas relações sociais.
Por outro lado, a bipolaridade muitas vezes emerge em idades mais jovens, trazendo consigo oscilações dramáticas de humor que podem impactar profundamente todas as esferas da vida.
Com a conscientização sobre os impactos dessas doenças mentais e a busca por acompanhamento médico e psicológico especializados, é possível amenizar os sintomas e ter uma melhor qualidade de vida.
04/06/2025 • há 7 dias
