11 sintomas da esquizofrenia
Revisado pelo(a) Dr. Roberto da Silva Chrysostomo, CRM/SP 57673 , Psiquiatria Não possui RQE para Psiquiatria
A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave que causa modificações no funcionamento do cérebro, afetando a forma como a pessoa pensa, se comporta e se sente.
Embora não haja cura definitiva, o tratamento adequado pode ajudar a reduzir os sintomas e a melhorar a qualidade de vida do paciente.
Geralmente, surge na adolescência ou no início da idade adulta (entre os 15 e os 25 anos), podendo, contudo, manifestar-se mais tarde, após os 40 anos.
Este transtorno tem um impacto significativo em diferentes áreas da vida, como: profissional, social, em relacionamentos e no autocuidado.
Neste artigo, veja os 11 sintomas da esquizofrenia e informações sobre seu tratamento!
PRINCIPAIS SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA
Reconhecer alguns dos sinais dos transtornos psiquiátricos pode ajudar a buscar ajuda profissional quando necessário.
A esquizofrenia é caracterizada por uma série de sintomas que incluem:
1. Psicose
- Delírios - são pensamentos irreais que não são compartilhados pelas pessoas. Estes pensamentos são irremovíveis e mesmo quando há um questionamento de determinado assunto com o paciente, a sua resposta não apresenta argumentação lógica. Nunca é recomendado confrontar um delírio, pois isto pode provocar reação agressiva por parte do paciente;
- Alucinações - é a percepção de estímulos que não existem. As alucinações envolvem os órgãos dos sentidos. O paciente vê coisas ou pessoas que não existem, ouve vozes também inexistentes, além de estímulos na pele, gostos, odores, etc. que não correspondem à realidade.
Inclusive, vale a pena ressaltar que existem as “pseudoalucinações”, que não fazem parte da esquizofrenia, mas que podem desencadear confusões mentais.
O indivíduo pode ver “vultos”, imagens não nítidas e definidas como na esquizofrenia, ouvir “sussurros” (e não vozes claras, como na esquizofrenia).
As pseudoalucinações podem ocorrer nos transtornos de humor (como na depressão psicótica, por exemplo) e não devem ser confundidas com as alucinações da esquizofrenia.
2. Os pensamentos são delirantes em seu conteúdo (delírio já descrito) e desorganizados em sua forma.
3. Embotamento afetivo, no qual o paciente não demonstra emoções no afeto.
4. A perda de contato com a realidade afeta a cognição do paciente pelo prejuízo na capacidade do uso de suas habilidades mentais.
Conheça mais sobre os principais sintomas da esquizofrenia abaixo.
1. Sintomas positivos
Os sintomas positivos são os delírios, alucinações, agitação, agressividade e agitação psicomotora.
As pessoas com esquizofrenia têm, com frequência, convicções ilusórias que recusam abandonar mesmo quando são apresentadas provas concretas de que estão erradas.
Um tipo de delírio bastante comum na esquizofrenia é o persecutório (sentimento de que alguém está perseguindo, vigiado), além de outros delírios onde existe desorganização.
Já os delírios de grandiosidade (sentir-se extraordinariamente poderoso ou importante) estão mais comumente ligados a um outro tipo de psicose: a psicose maníaca, que faz parte do transtorno de humor bipolar (no qual há pensamentos como “sou Deus” ou ”eu controlo a natureza”, por exemplo).
Outro sintoma muito presente nas pessoas com esquizofrenia são as alucinações, ou seja, ter sensações que não correspondem à realidade, como cheirar, ver e até mesmo tocar superfícies inexistentes.
A mais frequente dessas alucinações sensoriais é, por exemplo, ouvir vozes (muitas vezes críticas ou de comando, vozes claras).
O tratamento dos delírios e alucinações na esquizofrenia envolve o uso de medicamentos antipsicóticos (AP), que reduzem a dopamina do cérebro (causa principal do quadro).
Os antipsicóticos atuam nas quatro vias dopaminérgicas do cérebro:
- via mesolímbica (1);
- via mesocortical (2);
- via túbero-infundibular (3);
- via nigro-estriatal (4).
Quando os antipsicóticos reduzem a dopamina na via mesolímbica, os sintomas positivos diminuem, sendo esta a principal finalidade destes medicamentos.
A redução da dopamina na via mesocortical provoca um aumento dos sintomas negativos (depressividade, sonolência e piora do isolamento social, por exemplo), sendo inevitável.
O efeito dos AP na via túbero-infundibular provoca a elevação da Prolactina - PRL (“hormônio do leite”), sendo necessário realizar regularmente o seu exame para acompanhar o quadro de saúde do paciente.
A elevação da PRL indica a necessidade de redução da dose, pois indica que as duas vias superiores já foram afetadas.
Os AP, dependendo da dose, podem elevar a acetilcolina, provocando sintomas similares aos da doença de Parkinson, como o “endurecimento do corpo”.
O exame de creatinofosfoquinase (CPK) é importante e deve ser solicitado periodicamente (assim como a PRL), pois é uma situação em que a redução da dose do AP se torna prioridade.
Outro detalhe que vale a pena ser citado é a recomendação para o uso de apenas um AP devido ao "risco" associado à ocorrência da síndrome neuroléptica maligna.
Esses medicamentos reduzem a gravidade desses sintomas e proporcionam melhora significativa para as pessoas afetadas.
Como dito anteriormente, é importante notar que os antipsicóticos podem ter efeitos colaterais, por isso, devem ser monitorados de perto pelo médico psiquiatra com observação e os exames laboratoriais.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) também pode ser útil para ajudar o paciente a questionar e modificar seus delírios.
2. Sintomas negativos
Os sintomas negativos da esquizofrenia estão relacionados ao aumento ou deficiência de emoções, afeto e comportamentos, como:
- isolamento social, ideação suicida;
- ter dificuldade em sentir ou expressar emoções;
- sentir falta de energia e motivação;
- perder o interesse e a motivação para realizar atividades rotineiras.
O tratamento dos sintomas negativos é um desafio, pois eles podem ser consequência do próprio uso dos antipsicóticos.
No entanto, a terapia de reabilitação, que inclui treinamento no trabalho e atividades de apoio comunitário, pode ajudar as pessoas a desenvolverem habilidades para uma vida mais independente e significativa.
3. Desorganização e comprometimento cognitivo
A desorganização no pensamento faz parte do sintoma delirante e é manifestação da sua forma (lembrando que o pensamento tem velocidade, forma e conteúdo).
Além disso, muitas pessoas com esquizofrenia vivenciam o comprometimento cognitivo causado pelo aumento da dopamina na via mesolímbica, o que, consequentemente, causa desorganização do pensamento, tornando muito mais difícil se concentrar, lembrar de eventos, resolver problemas e até mesmo realizar tarefas cotidianas.
O tratamento para a desorganização e o comprometimento cognitivo está centrado na redução da dopamina na via mesolímbica pelo antipsicótico e tem como aliado a TCC (terapia cognitivo-comportamental).
A psicoterapia TCC pode ajudar as pessoas a aprender a lidar com os sintomas e a desenvolver estratégias (como a escrita, a arte, entre outros recursos) para melhorar o seu funcionamento no dia a dia .
4. Alterações no humor
As pessoas com esquizofrenia podem experimentar alterações no humor, variando de irritabilidade (sintoma positivo) até prostração/debilidade física (sintoma negativo).
Essas alterações no humor estão relacionadas às modificações na forma como o indivíduo processa os seus pensamentos.
Quando as alterações no humor são significativas, o efeito dos AP na via mesolímbica tende a solucionar o sintoma. A psicoterapia também pode ajudar a gerenciar essas flutuações emocionais.
5. Isolamento social
As pessoas com esquizofrenia tendem a se isolar socialmente e isto pode ocorrer precocemente, no final da infância ou início da adolescência.
Esse isolamento pode ocorrer tanto na fase aguda quanto na fase crônica da doença, impactando na qualidade de vida ocupacional e familiar do paciente.
A intervenção terapêutica (sempre antipsicóticos em conjunto com a terapia cognitivo-comportamental) pode envolver a promoção de habilidades sociais.
Inclusive, o suporte familiar é sempre importante em todos os problemas de saúde mental, e o fornecimento de informação aos amigos também desempenha um papel importante na reintegração social do paciente.
6. Problemas de sono
Problemas de sono são comuns em pessoas com esquizofrenia (incluindo insônia e alterações na qualidade do sono), mas o uso de antipsicóticos, especificamente em sua ação na via mesocortical, pode contribuir para a melhora da sonolência excessiva.
O tratamento dos distúrbios do sono também pode incluir Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I).
7. Agitação
Outro sintoma positivo da esquizofrenia frequentemente apresentado pelos pacientes é o aumento na psicomotricidade. Esses sinais podem se manifestar como agitação e até mesmo impulsividade.
8. Movimentos anormais
Outro aspecto da esquizofrenia que merece atenção é a possível ocorrência de movimentos corporais anormais.
Esses movimentos podem incluir posturas incomuns ou repetitivas, que são conhecidas como sintomas extrapiramidais, decorrentes da impregnação da via nigroestriatal por dose dos antipsicóticos.
9. Falta de concentração
A dificuldade em focar nas tarefas cotidianas pode ser um dos maiores desafios enfrentados por aqueles que têm essa condição e por pacientes em tratamento com doses adequadas de AP.
Para abordar essa falta de concentração, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e outras abordagens terapêuticas podem ser altamente benéficas.
Além disso, o suporte social e familiar desempenha um papel fundamental na reabilitação de pessoas com esquizofrenia.
O entendimento e o apoio daqueles ao redor podem fazer uma diferença substancial na qualidade de vida e na recuperação do paciente.
10. Alterações na memória
Os pacientes diagnosticados com esquizofrenia podem manifestar alterações consideráveis na memória e no processo de aprendizado.
Essas mudanças podem variar desde dificuldade em lembrar informações recentes até lapsos de memória mais sérios, que afetam a capacidade de realizar tarefas diárias e de interagir com o ambiente.
O tratamento geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar que pode incluir terapia cognitivo-comportamental e terapia ocupacional.
A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, ajuda os pacientes a desenvolver estratégias para melhorar a memória e o aprendizado, enquanto a terapia ocupacional visa melhorar as habilidades práticas necessárias para a vida cotidiana.
11. Redução da fala
A redução da fala é outra manifestação comum em muitos casos de esquizofrenia, tanto devido aos sintomas negativos como por consequência do efeito dos AP.
Os pacientes podem enfrentar dificuldades significativas na expressão verbal, frequentemente pronunciando palavras confusas, desconexas ou não conseguindo formar frases coerentes.
Essas dificuldades na comunicação podem ter um impacto significativo na qualidade de vida do paciente, prejudicando sua capacidade de se comunicar com os outros de maneira eficaz.
O tratamento para a redução da fala varia de acordo com a gravidade do problema. Em alguns casos, a psicoterapia através da fala ou o tratamento com um fonoaudiólogo pode ser benéfico, ajudando os pacientes a melhorar a articulação e a clareza da fala.
Como reconhecer um episódio de esquizofrenia?
A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico marcado principalmente pela perda de conexão com a realidade.
Durante um surto psicótico, os sintomas predominantes são os positivos.
Esse termo não indica que o sintoma é benéfico, mas que está em um estado contrário ao depressivo, abrangendo delírios e alucinações.
Quando isso ocorre, é comum que sejam ditas palavras ilógicas e irreais, principalmente relacionadas à perseguição.
Pessoas com este sintoma podem se sentir observadas, além de ouvir vozes e agir de forma extremamente agressiva, seja por serem confrontadas em seus pensamentos ou devido ao conteúdo do delírio.
Sintomas desse tipo caracterizam a fase aguda da doença, o que não significa que sejam temporários. Quando não é tratado, o surto pode durar semanas e até vários meses.
Após a saída do surto, os pacientes podem apresentar sintomas residuais, que normalmente são os sintomas negativos:
- isolamento social;
- menor interação afetiva;
- retraimento;
- falta de vontade para realizar atividades diversas.
A esquizofrenia é progressiva?
A esquizofrenia é uma doença progressiva e, sem tratamento, os surtos se tornam cada vez mais frequentes e deixam cada vez mais sintomas residuais, afetando atividades profissionais e sociais.
Atualmente, uma das causas mais frequentes da esquizofrenia é o uso de Cannabis sativa (maconha), que contém o tetrahidrocanabinol (THC), o qual ativa a genética pregressa que o paciente tem.
Quando o tratamento começa logo após o primeiro surto, o paciente passa a ter prejuízos que o impedem de retomar sua vida normal e, a cada novo surto, seu quadro de saúde pode resultar na demência.
Porém, quando um paciente apresenta um surto psicótico, sua cognição é afetada e o seu estado não pode ser recuperado após a retomada do tratamento.
Este é um caso diferente do paciente que tem o transtorno de humor bipolar, uma vez que a pessoa com esse transtorno retorna à condição em que estava antes do surto (psicose maníaca).
Além dos medicamentos, também podem ser utilizadas algumas terapias para ressocialização. A esquizofrenia não tem cura, mas tem comportamento evolutivo.
Quando a esquizofrenia é corretamente tratada, é possível ter uma melhora da qualidade de vida convivendo com o transtorno.
Conclusão
Como mostrado no post sobre os 11 sintomas da esquizofrenia, ao surgirem um ou mais sinais da doença, é indicado buscar a ajuda de um psicólogo e de um psiquiatra.
A esquizofrenia não tem cura, mas tem tratamento, que oferece resultados razoáveis. O tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo o uso de medicamentos antipsicóticos, terapia de reabilitação, além de psicoterapia.
O apoio da família e o tratamento precoce desempenham um papel crucial na manutenção de um prognóstico (quadro de saúde futuro esperado para o paciente) para aqueles que vivem com a doença.
25/10/2024 • há um mês