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O que é Síndrome de Borderline e por que ela é confundida com transtorno bipolar?

Revisado pela Equipe de Redação da Medprev

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Você já ouviu falar em personalidade borderline? Ela corresponde a um transtorno mental que se manifesta especialmente pela instabilidade emocional muito acentuada. Para evitar confundi-lo com o transtorno bipolar, é necessário entender o que é Síndrome de Borderline e como eles se diferenciam.

Também chamada de transtorno de personalidade limítrofe, a Síndrome de Borderline não tem cura, mas pode ser controlada com um tratamento que associa psicoterapia, medicamentos e, mais raramente, internamento em clínica psiquiátrica.

Os primeiros sintomas costumam aparecer durante a adolescência, afetando principalmente mulheres jovens, embora os homens também possam desenvolvê-la. A síndrome pode entrar em remissão em adultos mais velhos, a partir dos 40 anos.

O que é Síndrome de Borderline?

A Síndrome de Borderline é um transtorno mental em que o paciente apresenta mudanças repentinas e frequentes de humor e comportamento, alternando entre momentos de estabilidade e de descontrole.

Como a instabilidade emocional é muito intensa, os pacientes costumam ter problemas em seus relacionamentos pessoais, perdendo laços afetivos, familiares e de amizade. Em consequência, as pessoas com esse transtorno costumam enfrentar períodos de solidão, têm sua vida profissional prejudicada e adotam comportamentos de risco, o que pode levar ao suicídio.

No que a Síndrome de Borderline se diferente do transtorno bipolar?

O transtorno bipolar também é caracterizado por variações de humor, o que muitas vezes faz com que os pacientes borderline passem anos sem o diagnóstico correto. Porém, existem pelo menos duas diferenças entre esses transtornos: a velocidade das mudanças de humor e as suas motivações.

Na Síndrome de Borderline, a instabilidade emocional leva a alterações de humor em questão de minutos ou segundos, enquanto o paciente bipolar costuma passar pelo menos uma semana no estado de euforia (mania) e dois meses no estado de depressão.

Em relação às motivações das mudanças de humor e comportamento, elas acontecem devido a fatores internos no caso do transtorno bipolar, como um desequilíbrio dos neurotransmissores, e a fatores externos na Síndrome de Borderline, como uma suposta rejeição.

Além disso, a mesma pessoa pode apresentar os dois transtornos simultaneamente, o que torna o diagnóstico ainda mais difícil e aumenta as chances de complicações, como tentativas de suicídio. Outros transtornos associados são, por exemplo, ansiedade, depressão, dependência de substâncias químicas e distúrbios alimentares.

Causas da Síndrome de Borderline

O transtorno de personalidade limítrofe pode ter diversas causas. Embora ainda não haja um consenso, as pesquisas apontam para algumas que parecem ser mais comuns, por exemplo:

  • Fatores genéticos: há indícios de que pessoas com um familiar próximo com esse transtorno têm mais chances de desenvolvê-lo, o que poderia sugerir o envolvimento de um gene. Contudo, o desenvolvimento da síndrome pode estar relacionado ao ambiente familiar, sem que haja uma herança genética verdadeira;

  • Ambiente familiar conflituoso: além da própria convivência com um familiar borderline, as causas da síndrome parecem incluir dinâmicas familiares conturbadas principalmente em relação aos pais, seja por problemas no casamento, abuso de substâncias ou excesso de autoridade;

  • Traumas de infância: crianças que sofreram abuso sexual, físico ou emocional parecem ter uma propensão maior a desenvolver a síndrome mais tarde, assim como aquelas que tiveram suas necessidades negligenciadas por seus cuidadores;

  • Alterações cerebrais: exames de ressonância magnética sugerem alterações comuns em algumas regiões do cérebro responsáveis pelas emoções, o comportamento e o autocontrole. A causa também pode estar relacionada a alterações no funcionamento dos neurotransmissores.

  • Desequilíbrios hormonais: os pacientes com a síndrome costumam apresentar um aumento na produção do cortisol (hormônio do estresse). Nas mulheres, as variações do estrogênio no ciclo menstrual podem estar relacionadas às manifestações.

Sintomas da Síndrome de Borderline

As manifestações da Síndrome de Borderline afetam diversas áreas, como as emoções, a autoimagem, a cognição, os relacionamentos pessoais e o autocontrole. Assim, os sintomas podem ser divididos em algumas áreas, podendo se manifestar com intensidade variada de pessoa para pessoa:

1. Instabilidade emocional

  • Variações de humor em questão de minutos (amor x ódio, esperança x desespero etc.)

  • Emoções positivas e negativas exageradas, fazendo com que a alegria se torne euforia, a tristeza se torne luto e a frustração se torne ódio;

  • Dificuldade extrema para lidar com críticas e rejeição;

  • Sentimentos intensos de ira, que levam a agressões físicas com frequência.

2. Problemas de autoimagem e cognição

  • Incapacidade de definir suas preferências, valores e objetivos, pois eles mudam o tempo todo;

  • Dificuldade para definir sua sexualidade e identidade de gênero;

  • Baixa autoestima e sentimento de inutilidade;

  • Sentimento de vazio, tédio e ausência de sentido na vida;

  • Medo extremo de ser abandonado ou rejeitado por alguém, sendo incapaz de aceitar que essa pessoa possa simplesmente estar ocupada;

  • Incapacidade de acreditar em um sentimento alheio se ele não for reforçado com frequência;

  • Pensamentos paranoicos de que as pessoas querem lhe causar sofrimento;

  • Episódios de dissociação, caracterizados pela sensação de estar fora do corpo.

3. Dificuldades e conflitos nos relacionamentos pessoais

  • Padrão de relacionamentos afetivos instáveis e abusivos;

  • Idealização e desvalorização de pessoas queridas por motivos injustificados;

  • Apego excessivo às pessoas próximas;

  • Medo inexplicável de ser abandonado;

  • Comportamentos inadequados na tentativa de evitar um suposto abandono, como ameaçar se suicidar para impedir que a outra pessoa se ausente;

  • Atitudes agressivas e violentas em relação à pessoa amada quando imagina estar sendo abandonado ou rejeitado.

4. Comportamentos impulsivos

  • Abuso de substâncias como álcool, drogas e medicamentos;

  • Apostas e compras por impulso que prejudicam sua vida financeira;

  • Promiscuidade e sexo desprotegido mesmo com estranhos;

  • Cleptomania;

  • Imprudência no trânsito;

  • Comportamentos autodestrutivos como automutilação (cortes, queimaduras, pancadas) para aliviar as dores emocionais ou como forma de autopunição;

  • Comportamento suicida (mais comum entre os homens).

Tratamento da Síndrome de Borderline

Embora não tenha cura, a Síndrome de Borderline pode ser tratada, obtendo-se um bom controle dos sintomas e até mesmo a remissão do transtorno em adultos a partir dos 40 anos, com o desenvolvimento da maturidade emocional.

O tratamento é feito principalmente com psicoterapia para lidar com as variações de humor, os pensamentos paranoicos, o comportamento impulsivo e os problemas de relacionamento. A psicoterapia pode ser associada ao uso de medicamentos estabilizadores de humor, antidepressivos e antipsicóticos.

Se o paciente estiver enfrentando um período de surto psicótico, com comportamento autodestrutivo ou suicida acentuado, pode ser necessário o internamento em clínica psiquiátrica.

Complicações da Síndrome de Borderline

O paciente tem uma maior tendência a abandonar a faculdade, pedir demissão ou ser demitido com frequência, enfrentar problemas com a lei, contrair DSTs, engravidar sem planejar, envolver-se em brigas, ter uma overdose ou sofrer acidentes de trânsito, entre outras complicações.

Em função dessas consequências e dos graves problemas de relacionamento, a convivência com um paciente desse transtorno costuma ser bastante complicada. Dificilmente a pessoa perceberá sozinha que precisa de ajuda, cabendo aos familiares e amigos próximos estarem preparados para enfrentar os períodos de crise.

Entender o que é Síndrome de Borderline ajuda as pessoas ao redor do paciente a lidar melhor com seus sintomas, encontrando um equilíbrio entre os cuidados dedicados a ele e o seguimento da própria vida. Se esse é o seu caso, a terapia familiar também pode oferecer uma boa ajuda.

26/10/2022   •   há 2 anos