Doença celíaca: o que é, sintomas e tratamentos
Revisado pela Equipe de Redação da Medprev
Você já ouviu falar sobre a dieta com restrição de glúten? Esta é a principal forma de tratamento da doença celíaca, condição autoimune que provoca uma reação exagerada no sistema imunológico do indivíduo.
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que cerca de 1% da população mundial é celíaca. Grande parte dos casos se apresenta ainda na infância, com quadros de diarreias crônicas e deficiências de crescimento.
Saiba mais sobre a doença celíaca: o que é, sintomas e tratamentos a seguir.
O que é a doença celíaca?
A doença celíaca (também conhecida como enteropatia sensível ao glúten) é uma doença autoimune crônica, que afeta o intestino delgado de adultos e crianças geneticamente predispostos.
Seu aparecimento ocorre pela ingestão do glúten, proteína encontrada em alimentos como trigo, cevada, aveia e derivados.
Quando um paciente celíaco consome glúten, o seu sistema imunológico reage de maneira anormal, atacando as vilosidades (dobras da camada interna que aumentam a superfície de absorção de nutrientes) do intestino delgado.
Assim, devido a este ataque, o revestimento intestinal acaba inflamando e a absorção de nutrientes pelo organismo fica comprometida, levando a diversos problemas de saúde.
Tipos de doença celíaca (manifestações clínicas)
De forma geral, não há uma classificação da doença celíaca em tipos, mas em manifestações clínicas. A seguir, descubra como cada uma delas se apresenta.
1. Doença celíaca clássica
A doença celíaca clássica apresenta-se na forma de sintomas típicos, que incluem:
- diarreia;
- perda de peso;
- dores e distensões abdominais.
Costuma ser mais comum na infância, durante os primeiros 5 anos de vida. É a forma que pode ser diagnosticada mais facilmente.
2. Doença celíaca não clássica ou atípica
A doença celíaca não clássica ou atípica tem como uma das principais características a manifestação com sintomas fora do trato gastrointestinal, incluindo:
- fadiga;
- problemas de pele;
- problemas neurológicos;
- osteoporose.
Nesse caso, os sintomas gastrointestinais são praticamente ausentes, o que também dificulta o seu diagnóstico.
3. Forma assintomática
Essa forma da doença celíaca causa lesões no intestino delgado do paciente; porém, não apresenta sintomas.
Nestes casos, o diagnóstico correto é essencial para o controle da condição, uma vez que, se não tratada, pode evoluir para problemas de saúde mais sérios, como anemia e também câncer de intestino.
4. Doença celíaca refratária
A doença celíaca refratária é a forma mais rara e grave da doença. Neste caso, mesmo com dietas rigorosas sem glúten, o paciente apresenta sintomas agressivos.
Seu tratamento requer uma abordagem mais intensiva. Os pacientes deste tipo costumam ter mais de 50 anos.
5. Doença celíaca latente
Algumas pessoas, mesmo com predisposição genética, podem não desenvolver a doença no início da vida.
Contudo, no caso da doença celíaca latente, sua manifestação pode ocorrer em algum momento da vida, geralmente na fase adulta.
Sintomas da doença celíaca
É importante lembrar que boa parte das manifestações da doença pode se sobrepor a outras condições médicas, o que dificulta o diagnóstico correto.
Dessa forma, aos primeiros sinais do problema, deve-se imediatamente procurar ajuda médica, como a do gastroenterologista.
Entre os principais sintomas da doença celíaca, estão:
- problemas de crescimento e problemas de peso (principalmente em crianças);
- fadiga e fraqueza (mesmo após uma boa noite de sono);
- problemas neurológicos, incluindo dores de cabeça e formigamento nas extremidades do corpo;
- problemas musculares e articulares;
- problemas nos ossos;
- distúrbios gastrointestinais como diarreia, constipação e dores abdominais frequentes;
- anemia;
- problemas hepáticos (elevação das enzimas hepáticas);
- problemas dentários, devido à má absorção de nutrientes.
Causas e fatores de risco da doença celíaca
O glúten, em pessoas celíacas, estimula a produção de determinados tipos de anticorpos (como a antigliadina), que danificam o intestino delgado.
Dessa forma, a causa para a doença não reside em fatores externos e sim, em uma predisposição genética.
Portanto, pessoas com variantes genéticas específicas estão mais propensas a desenvolver a condição, em especial o gene MHC (Complexo Principal de Histocompatibilidade). Ele é responsável pela codificação das estruturas proteicas da resposta imunológica do corpo.
Essa produção exagerada de anticorpos leva a uma resposta inflamatória do organismo, resultando em danos ao revestimento do intestino delgado.
A predisposição genética é a causa principal para a doença celíaca. Porém, existem também os fatores de risco, que aumentam as chances da manifestação do problema. Entre eles, estão:
- artrite reumatoide;
- colite;
- diabetes do tipo 1;
- síndrome de Down;
- síndrome de Turner;
- tireoidite autoimune.
Diagnóstico da doença celíaca
O diagnóstico pode ser realizado por um clínico geral ou também por um gastroenterologista.
Envolve, na maioria das vezes, a combinação de uma avaliação clínica e de exames de sangue específicos.
Em alguns casos, pode ser solicitada também a biópsia de alguma parte do intestino delgado, além de procedimentos de imagem complementares.
1. Avaliação clínica
A avaliação clínica envolve análise detalhada de todo o quadro do paciente, o que inclui a revisão dos sintomas, histórico médico e familiar do indivíduo, além dos possíveis fatores desencadeantes.
2. Exames de sangue
De forma geral, os exames de sangue são, na verdade, a primeira etapa do diagnóstico.
São realizadas dosagens no sangue dos anticorpos contra o glúten. Entre os marcadores mais utilizados, estão:
- Anticorpos antitransglutaminase tecidual - apresentam-se sempre elevados em indivíduos com a doença celíaca;
- Anticorpos antiendomísio - sua presença no sangue é o principal indicativo de doença celíaca;
- Anticorpos antigliadina - é o menos usado, pois os resultados são menos específicos.
3. Endoscopia e biópsia
Caso os exames de sangue apontem para a presença da doença celíaca, o complemento do diagnóstico pode ser feito por meio da endoscopia digestiva alta com posterior biópsia do intestino delgado.
A endoscopia é realizada através da inserção de um pequeno tubo flexível com uma câmera pela garganta, até o intestino delgado. Ela permite visualizar o revestimento do órgão. Já a biópsia é a retirada do revestimento do intestino delgado para análise laboratorial.
4. Avaliação histológica
As biópsias são examinadas em microscópios para avaliar a presença de lesões características, como as vilosidades intestinais.
Tratamento da doença celíaca
Não existe cura para a doença celíaca. A principal linha de ação do tratamento é a eliminação completa do glúten na dieta do indivíduo.
Uma vez diagnosticada, é fundamental que o paciente siga à risca todas as recomendações médicas.
Isto geralmente envolve consultas com nutricionistas ou profissionais especializados em dieta de doença celíaca.
Assim, é preciso cortar o consumo de alimentos como o trigo, a cevada, o centeio e, em alguns casos, a aveia (pode haver contato com o glúten durante sua manipulação).
A dieta de um celíaco deve conter carne, peixes, frutas, vegetais, arroz, batata e produtos sem glúten.
Vale salientar que o cuidado apenas com os alimentos pode não ser suficiente, também é preciso se atentar a uma possível contaminação.
A contaminação cruzada ocorre quando utensílios de cozinha, como pratos, talheres, entre outros, não são higienizados da forma correta, podendo assim conter glúten em sua superfície.
A supervisão nutricional é outro fator fundamental para o sucesso do tratamento da doença celíaca. É preciso manter o consumo de todos os nutrientes essenciais, mesmo com restrições alimentares, para uma vida saudável.
Em casos nos quais as deficiências nutricionais são graves, o médico ou o nutricionista pode recomendar o uso de suplementos vitamínicos e minerais, como forma de manter os níveis de cálcio, ferro e zinco equilibrados.
Embora a doença celíaca não tenha cura, é possível conviver bem e sem complicações, desde que o paciente siga rigorosamente o plano de tratamento disponibilizado.
Intolerância ao glúten e doença celíaca são iguais?
É comum a confusão entre a intolerância ao glúten e a doença celíaca. Contudo, ambas as condições possuem algumas diferenças entre si, mesmo que suas causas estejam relacionadas à ingestão de glúten.
A doença celíaca, em si, provoca uma reação exagerada no sistema imunológico do paciente; já a intolerância ao glúten está ligada a uma sensibilidade ao consumo da proteína.
Enquanto a doença celíaca causa um processo inflamatório, levando a diversos outros problemas de saúde, a sensibilidade ao glúten pode ser causada pelo alto consumo da proteína, que não é bem digerida.
Conclusão
Como mostrado neste post "Doença celíaca: o que é, sintomas e tratamentos", esta é uma doença autoimune, o que leva a um processo inflamatório do intestino delgado e dificulta a absorção de proteínas pelo organismo. Ela causa diversos sintomas, incluindo problemas no crescimento, distúrbios gastrointestinais, etc.
A Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil estima que 2 milhões de brasileiros convivem atualmente com a doença.
O seu diagnóstico é realizado através de exames de sangue e também de imagem, como a endoscopia. Não existe cura e medicação específica para a doença celíaca.
Dessa forma, todo o tratamento se concentra na adoção de uma dieta livre de glúten, o que possibilita ter qualidade de vida e prevenir os seus sintomas.
06/06/2025 • há 19 horas